

Provavelmente um dos últimos textos do Batata, escrito em 30 de Janeiro de 2009, fechado às 16:53hs, conforme o indicador do world.
As Cruzes
por Luís Carlos Castro Palma
Uma daquelas histórias antigas contadas junto ao mormaço amigo do fogão a lenha. O pai, olho meio fechado pela fumaça do cigarro de palha, voz amiga e de suspense; a mãe remendando alguma roupa; os filhos moços com ares de entendedores; as moças com trejeitos de mocidade inocente e os menores com olhos redondos pela atenção que prestam. Um estalido do tição traz arrepios e os meninos trocam cutucões com cotovelos.
E a história: Os palhaços de Folias de Reis não são apenas palhaços no significado mais popular. Possuem, na tradição dos foliões de reis, várias funções de importância. Abrem alas para a passagem dos embaixadores da Folia, distraem a atenção dos “esbirros do rei Heródes”, caminham à frente, aos lados e na retaguarda do “térno de Reis” para proteger de toda e qualquer ameaça. Na realidade não são palhaços, apenas se disfarçam para melhor exercer o seu propósito de segurança .Protegem a Bandeira. E mais: recolhem esmolas em nome do Divino Menino. Quanto maior o montante da esmola maior a glória e o prestigio da sua Companhia de Reis. Tempos antigos, longas caminhadas faziam as Folias pelas estradas desertas. No encontro de duas Companhias, em tais lugares, sempre existia uma rivalidade “religiosa” entre as Bandeiras, provocava chistes e altercações maiores. Não passava de bate-boca até quando um palhaço ameaçava tomar as esmolas da outra Folia. Não era ameaça, mas desafio inaceitável. A coisa ficava séria. Os palhaços de cada Companhia simulavam, então, um duelo com espadas de pau. Muitos destes duelos degeneravam. Muitas cruzes pelas estradas contam isso. Aquelas três, também.
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